domingo, novembro 18, 2012

3 poemas de António Borges Coelho



Não tenhas medo do sangue aberto
do corpo enfeitado pelas balas

**

Quando a noite curva os ombros
mergulhando-nos nas coisas
apagando o espaço
que busco no teu corpo
porque me deito sobre o teu ventre

Encosto o ouvido
ao pulsar do seio
queimamo-nos lentamente
para acender o sol

***

Balouça as folhas rústica a varrer
a terra verdes fazem de toalha
cobrindo os frutos verdes quase roxos
a barriga vermelha há milénios

que serve o homem com seu verde mel
mas Judas enforcou-se nos seus ramos
e quando não deu fruto o próprio Cristo
a declarou maldita o vento oeste

dobrou-a sobre o barro descarnou-a
esbarrondou-lhe o tronco as raízes
fincaram-se na terra ladras de água

curvada à maldição inclina os ramos
desfaz-se em fruto embala preso à corda
o cadáver de todos os malditos

António Borges Coelho, Ao Rés da Terra, Lisboa: Caminho, 2002, p.39, 60, 93.

Sem comentários: