sexta-feira, agosto 31, 2012

Desafio 12:8

Ainda a refazer-me da maleita, um mês demasiado relaxado... Conclusão dos Jogos Olímpicos (que fui acompanhando), o Casamento da Liliana, o concerto dos Monte Lunai no Theatro Circo (ou antes, ao lado do teatro, ao ar livre, com danças e tudo!), a agradável série Camelot (Eva Green, Joseph Finnes e Peter Mooney impecáveis), a fantástica produção da BBC The Line of Beauty, que revi já não me lembrando muito bem da história protagonizada por Dan Stevens e Hayley Atwell, e a grande surpresa que foi Once Upon a Time, uma série de vinte e dois episódios que me prendeu de tal maneira que vi tudo em três dias... Jennifer Morrison, Giniffer Goodwin, Josh Dallas, Eion Bailey a desempenhar algumas das personagens favoritas: contos de fadas revistos, às vezes bem mais coerentes que os que conhecemos, cujas personagens se encontram amaldiçoadas numa cidade de onde não podem sair e onde vivem sem se lembrarem quem são. Muitos livros e muitos filmes, também, como é costume:


livros:

72. O Prisioneiro do Céu, Carlos Ruiz Zafón, Planeta, 400p.*****
73. Resumo. a poesia em 2011, Vários, Assírio & Alvim-Documenta, 192p.****(*)
74. O Conhecimento da Dor, Carlo Emílio Gadda, Ulisseia, 180p.***
75. Contos, Franz Kafka, Relógio D’Água, 90p.****
76. O Outono em Pequim, Boris Vian, Público/Mil Folhas, 256p.****(*)
77. Havia, Joana Bértholo, Caminho, 168p.*****
78. Embaixada a Calígula, Agustina Bessa-Luís, Guimarães Editores, 376p.****(*)
79. As Suplicantes, Ésquilo, CECH-FESTEA, 92p.****
80. A Sogra, Terêncio, CECH-FESTEA, 132p.***(*)
81. Persa, Plauto, Verbo, 128p.***
82. Bucólicas, Calpúrnio Sículo, Verbo, 144p.**(*)
83. Enciclopédia da Estória Universal. Recolha de Alexandria, Afonso Cruz, Alfaguara, 114p.*****
84. Água, cão, cavalo, cabeça, Gonçalo M. Tavares, Caminho, 96p.**
85. O Museu da Rendição Incondicional, Dubravka Ugerešić, Cavalo de Ferro, 352p.*****


filmes:

161. Pa Negre, Agustí Villaronga*****
162. Der Untergang, Oliver Hirschbiegel****(*)
163. Five Minutes of Heaven, Oliver Hirschbiegel, ****(*)
164. O Brother, Where Art Thou?, Joel Cohen*****
165. The Prince and the Showgirl, Laurence Olivier****(*)
166. Faubourg 36, Christophe Berratier*****
167. L'Autre Monde, Gilles Marchand***
168. Gegen die Wand, Fatih Akim****(*)
169. Magnolia, Paul Thomas Anderson*****
170. There Be Dragons, Roland Joffé****(*)
171. Odete, João Pedro Rodrigues**(*)
172. Rec3 Génesis, Paco Plaza****
173. Slutty Summer, Caspar Andreas**
174. Les Égarés, André Téchiné****(*)
175. Knocked Up, Judd Apatow****
176. Los Ojos de Julia, Guillem Morales***(*)
177. Dancer in The Dark, Lars Von Trier*****
178. Once, John Carney*****
179. Q., Laurent Bouhnik**
180. The Pirates! Band of Misfits, Peter Lord, Jeff Newitt****(*)
181. Fish Tank, Andrea Arnold****
182. Grande École, Robert Salis****
183. I am Sam, Jessie Nelson*****
184. La Haine, Mathieu Kassovitz****
185. You will meet a tall dark stranger, Woody Allen****(*)
186. Cassandra's Dream, Woody Allen*****
187. De Battre mon Coeur s'est Arrêté, Jacques Audiard****(*)
188. The Shrine, Jon Knautz***
189. A Soldier's Choice, Adrian Benjamin Burke***
190. Shi, Chang-dong Lee*****
191. eCupid, J. C. Calciano****
192. História Trágica com Final Feliz, Regina Pessoa***
193. The Best Exotic Marigold Hotel, John Madden*****
194. The Houseboy, Spencer Schilly***(*)
195. Sangue do meu Sangue, João Canijo***(*)

quinta-feira, agosto 23, 2012

90 Anos, 90 Palavras



Celebrando Saramago, como sempre deve ser, a Fundação a que dá nome pede que os seus leitores escolham uma palavra que relacionem com o autor e que a comentem. Eu fui o quinto a ser publicado, cá fica o textinho. Também podem ler aqui, o sítio original.


Casa

Os livros que nos deixou são casas com as janelas abertas onde deu ao mundo as histórias de que mais fazia caso. Podemos ficar nelas, ir aos seus jardins, percorrer os caminhos que nos levam até elas. oncedido o maior galardão literário da língua portuguesa, um cão assustou tanto uma vizinha que ela gritou a pedir ajuda. Os que estávamos em asa saímos para a rua e vimos que o animal feroz era um cachorro assustado com o susto da mulher. O animal entrou pela porta aberta do jardim, mexendo sem jeito as pernas, um pouco desajeitado, feliz por ninguém o maltratar. Quando Saramago apareceu a anunciar que tinha recebido o Prémio Camões, soubemos, soubemo-lo nesse instante, que o cão que tinha encontrado a sua casa não ia ter outro nome que o do grande poeta português. E assim, pelo menos em Lanzarote, Camões foi mencionado centenas de vezes por dia, foi vida e foi homenagem. E este cão doce e nobre, que nunca aprendeu a comer devagar porque até chegar à Casa tinha tido que lutar contra a fome e o abandono, com a sua gravata branca desenhada no pelo negro, que foi o modelo para “O Achado” d' A Caverna, um cão que, como todos os cães que Saramago inventa, é a melhor resposta animal à melhor consciência humana, morreu com todos os seus anos e sempre amado.

Quando o cão chamado Camões regressou a casa depois da morte de José Saramago, não conseguiu aceitar a ausência. Esteve inquieto durante o dia, mas quando chegou a noite e não viu o dono nem na cama nem no sofá que ocupava habitualmente, quando uma e mil vezes percorreu o espaço entre os dois quartos, quando percebeu que o dono já não estava nem ia estar, que isso é a morte, uivou, gritou, rasgou-se numa dor que arranha a alma só de descrevê-la. Não bastaram abraços para consolá-lo, nem palavras carinhosas: ia e vinha de um lugar para outro, numa correria que partia o coração, gemia com uma dor humana. Por isso, um amigo que estava lá em casa e ali passou a noite, intitulou no dia seguinte a sua coluna jornalística: “Camões chora por Saramago”.

Saramago já não poderá chorar por Camões, agora que morreu tão docemente como viveu, tão honestamente animal que apetece aprender com a sua forma de estar na vida. Ou talvez, sem chorar, se encontrem na sensibilidade criada que nada nem ninguém pode destruir, porque tanta vida partilhada, e em companhia tão amável, não pode perder-se. Estão por aí, em livros e memórias, em corações que não se rendem, José Saramago com os seus três cães, Pepe, Greta e Camões, pondo beleza no mundo, imortais na vivência pessoal dos que sabem ver e também sentir.

Pilar del Río
 Casas tão diferentes, seja o barco ou a mulher do homem que queria um barco, seja a Lisboa do revisor Raimundo Silva ou a que o cão Achado encontrou em Cipriano e Marta - e aquela Casa onde viveu permanece e atrai, porque «olharem-se era a casa de ambos», diz de Baltasar e Blimunda. oncedido o maior galardão literário da língua portuguesa, um cão assustou tanto uma vizinha que ela gritou a pedir ajuda. Os que estávamos em asa saímos para a rua e vimos que o animal feroz era um cachorro assustado com o susto da mulher. O animal entrou pela porta aberta do jardim, mexendo sem jeito as pernas, um pouco desajeitado, feliz por ninguém o maltratar. Quando Saramago apareceu a anunciar que tinha recebido o Prémio Camões, soubemos, soubemo-lo nesse instante, que o cão que tinha encontrado a sua casa não ia ter outro nome que o do grande poeta português. E assim, pelo menos em Lanzarote, Camões foi mencionado centenas de vezes por dia, foi vida e foi homenagem. E este cão doce e nobre, que nunca aprendeu a comer devagar porque até chegar à Casa tinha tido que lutar contra a fome e o abandono, com a sua gravata branca desenhada no pelo negro, que foi o modelo para “O Achado” d' A Caverna, um cão que, como todos os cães que Saramago inventa, é a melhor resposta animal à melhor consciência humana, morreu com todos os seus anos e sempre amado.

Quando o cão chamado Camões regressou a casa depois da morte de José Saramago, não conseguiu aceitar a ausência. Esteve inquieto durante o dia, mas quando chegou a noite e não viu o dono nem na cama nem no sofá que ocupava habitualmente, quando uma e mil vezes percorreu o espaço entre os dois quartos, quando percebeu que o dono já não estava nem ia estar, que isso é a morte, uivou, gritou, rasgou-se numa dor que arranha a alma só de descrevê-la. Não bastaram abraços para consolá-lo, nem palavras carinhosas: ia e vinha de um lugar para outro, numa correria que partia o coração, gemia com uma dor humana. Por isso, um amigo que estava lá em casa e ali passou a noite, intitulou no dia seguinte a sua coluna jornalística: “Camões chora por Saramago”.

Saramago já não poderá chorar por Camões, agora que morreu tão docemente como viveu, tão honestamente animal que apetece aprender com a sua forma de estar na vida. Ou talvez, sem chorar, se encontrem na sensibilidade criada que nada nem ninguém pode destruir, porque tanta vida partilhada, e em companhia tão amável, não pode perder-se. Estão por aí, em livros e memórias, em corações que não se rendem, José Saramago com os seus três cães, Pepe, Greta e Camões, pondo beleza no mundo, imortais na vivência pessoal dos que sabem ver e também sentir.

Pilar del Río


Saramago fica-nos como uma casa onde habita a língua portuguesa em restauro em face a um mundo que precisa de conserto.

quinta-feira, agosto 02, 2012

novo visual

acompanhando as mudanças do meu próprio visual e vida em vários aspetos (só me falta mesmo a pala à Camões...) - uma mudança no aspeto do blogue, mais leve, mais claro, mais fresco.