sexta-feira, dezembro 31, 2010

Desejo de meia-noite

«Midnight Swim», Javier Navarrete (ost Cracks)


2011 aproxima-se.
tempo de fazer votos, promessas, compromissos
todos eles de vidro, mais cedo ou mais tarde.

saibamos vivê-lo bem
e a meia-noite sirva ao menos como símbolo para uma vida melhor.
sem medos, como quando se mergulha de olhos abertos.
é o que desejo para todos nós.

Pensamento mais ou menos luxurioso

Porque não há-de o teu coração fazer fronteira com o meu,
quando nos trocam os nomes
e nos pensam o mesmo?


Que será do teu quando me desp(ed)ir em morte?


«Lustful Thoughts», Javier Navarrete (ost Cracks)

terça-feira, dezembro 28, 2010

dois poemas de Else Lasker-Schüler


Reconciliação

Há-de uma grande estrela cair no meu colo...
A noite será de vigília,

E rezaremos em línguas
Entalhadas como harpas.

Será noite de reconciliação -
Há tanto Deus a derramar-se em nós.

Crianças são os nossos corações,
anseiam pela paz, doces-cansados.

E nossos lábios desejam beijar-se -
Por que hesitas?

Não faz meu coração fronteira com o teu?
O teu sangue não pára de dar cor às minhas faces.

Será noite de reconciliação,
Se nos dermos, a morte não virá.

Há-de uma grande estrela cair no meu colo.


*****

David e Jónatas

(I Samuel, 18)

Na Bílblia estamos escritos
Num abraço de cores vivas.

Mas os nossos jogos de meninos estão
Vivos também na nossa estrela.

Eu sou David,
Tu, o meu companheiro de brinquedos.

Ah, os dois tingíamos de vermelho
Os nossos corações brancos de carneiro!

Como as flores em botão nos salmos do amor
Sob o céu de um dia de festa.

Mas os teus olhos de despedida, os teus olhos -
Estás sempre a despedir-te no silêncio do beijo.

E o teu coração, que fará
Ainda sem o meu?

A tua noite doce
Sem as minhas canções?


Baladas Hebraicas, Else Lasker-Schüller, Assírio & Alvim, p.45, 69

domingo, dezembro 26, 2010

Desafio em Dezembro


Dezembro. Além de recuperar Gonçalo M. Tavares, que adoro, a (re)descoberta de Manuel Jorge Marmelo (já tinha lido O Profundo Silêncio das Manhãs de Domingo), de que gosto muito também e que li de enfiada, como fiz com Mário de Carvalho no mês anterior e espero repetir com outros autores em breve, e Nuno Markl e sua fantástica viagem pelos anos 80 (os 70 não me dizem nada, claro). do resto não falo, por desilusão.
e eis que o desafio de 2010 chega ao fim. com balanço positivo, claro. 130 livros (tinha previsto este ano só 80, pois ia dedicar-me a encontrar tema e corpus para um doutoramento - o que não fiz), ou seja, 21336 páginas - o meu melhor de sempre, além de 220 filmes (o objectivo era de apenas 183, um de dois em dois dias). como tudo correu muito bem e eu não tenho vida mesmo, mantenho os desafios com os números: 100 livros e 200 filmes, mais coisa menos coisa. 21 peças de teatro, 7 concertos - quiçá chegarei a estes números em 2011, mas este ano foi bom :)

livros:
121. O Senhor Eliot e as conferências, Gonçalo M. Tavares, Caminho, 84p.*****
122. Histórias Falsas, Gonçalo M. Tavares, Bis/Leya, 96p.*****
123. O Homem que Julgou Morrer de Amor, Manuel Jorge Marmelo, Campo das Letras, 104p.****
124. Os Fantasmas de Pessoa, Manuel Jorge Marmelo, Asa, 128p.***
125. Oito Cidades e uma Carta de Amor, Manuel Jorge Marmelo, Campo das Letras, 120p.***
126. O Silêncio de um Homem Só, Manuel Jorge Marmelo, Campo das Letras, 120p.*****
127. Aonde o Vento me Levar, Manuel Jorge Marmelo, Campo das Letras, 160p.*****
128. Fernão Capelo Gaivota, Richard Bach, Europa-América, 106p.**
129. Novela Lírica, Annemarie Schwarzenbach, Granito, 112p.**
130. Caderneta de Cromos, Nuno Markl, Objectiva, 224p.*****

filmes:
199. The Day of The Triffids, Nick Copus**
200. Duplicity, Tony Gilroy**
201. Alvin and the Chipmunks, Tim Hill***
202. Confessions of a Shopaholic, P. J. Hogan****
203. Holiday in Handcuffs, Rob Underwood***
204. Love in time of cholera, Mike Newell***
205. A lenda de Despereaux, Sam Fell e Robert Stevenhagen****
206. Bedtime Stories, Adam Shankman****
207. Corrida Mortal, Paul W. S. Anderson*
208. O Chihuahua de Beverly Hills, Raja Gosnell**
209. Uma Casa na Pradaria, David L. Cummingham**
210. Creation, Jon Amiel*****
211. Jumper, Doug Liman****
212. Hostel, Eli Roth*
213. A Educação das Fadas, José Luís Cerda****
214. The Raspberry Reich, Bruce La Bruce*
215. Inception, Christopher Nolan*****
216. Leap Year, Anand Tucker****(*)
217. As Crónicas de Spiderwick, Mark Water***
218. Sexo com Amor, Wolf Maya**
219. Four Christmases, Seth Gordon****
220. The Last Station, Michael Hoffman*****

terça-feira, dezembro 21, 2010

Poema de Natal, 2010


Natal de 1972

Neste comércio festivo que há dois mil anos quase
perdura mal cobrindo remendadamente
o solstício do Inverno e os deuses sempre vivos
de cuja falsa morte o mundo paga em crimes,
como em vileza humana, o medo que escolheu
quando ao claror da aurora rósea e livre
de viver como os deuses e com eles
preferiu a lei e a ordem projectadas
na sombra em sombras da caverna obscura
e desejou o mal em preço de ser-se homem —
tudo o que em milhares de anos é tribal
congrega-se feliz num doce rebolar-se
da traição de que fomos contra a vida.
Tão vil que levou séculos a inventar
um deus assassinado para desculpá-la,
e fez dele o comércio das famílias
que cortam no peru as raivas de existirem,
beijando-se visguentas, comovidas,
tal como têm babado os pés dos deuses,
ah não eles mesmos mas imagens vãs
que não resplendam da grandeza humana.
Alguma vez teremos o dinheiro
para comprar de novo o Paraíso,
em vez de prendas para o sapatinho?
O Paraíso aqui — aquele que venderam
no começar do mundo. E que nos trocam
por outros no futuro ou nos aléns,
agora, aqui, aberto a todos, claro
- um sol sem fim nos bosques ou nas praias,
uma nudez sem morte nos corpos sem alma.


Jorge de Sena, in: Natal... Natais - Oito séculos de Poesia sobre o Natal, antologia organizada por Vasco Graça Moura (Público, 2005:275)

o Natal já anda aí



Mariah Carey, Christmas time is in the air again (ao vivo)

Mariah Carey, When Christmas Comes (ao vivo, inc.)

terça-feira, dezembro 14, 2010

Antínoo


Busto de Antínoo de Villa Adriana (Museu do Louvre)


Pois chegou a casa a revista «Forma Breve», n.º 7, onde já publiquei, num número anterior. Desta vez o tema era «Homografias. Literatura e homoerotismo» e, embora pouco percebendo das questões de género e sexualidade na literatura, achei boa altura para estudar a figura de Antinoos na poesia portuguesa contemporânea (muito parecido com o que fiz com a Penélope, para um congresso na FACFIL). Com um ano de atraso, a revista chegou-me mesmo, e com o meu artigo: «Esse humano que foi como um deus grego: Antínoo entre eros e thanatos na poesia portuguesa contemporânea», do qual espero ainda fazer a sequela: Esse humano que ainda é como um deus grego: Antínoo à luz de Sophia e Jorge de Sena» (ou qualquer coisa assim parecida). Fica aqui um excerto:



«Ainda em Dual, na secção V «Arquipélago», encontra-se:

Lamentação de Adriano sobre a morte de Antínoos

Não escreverei mais o meu nome em letras gregas sobre a cera das tabuinhas
Porque estás morto
E contigo morreu o meu projecto de viver a condição divina (Andresen, 2004:64)

O poema, embora parta da mesma história que os anteriores, tem uma construção e temática muito diversa deles. Notavelmente mais breve, aqui o sujeito poético é identificado com Adriano que, em tom de lamentação já anunciado pelo título, assume uma perspectiva de compromisso perante a morte do amado. Esse compromisso revela uma certa negação do futuro. Não está presente a descrição física, mas antes a descrição indirecta do estado psicológico de quem fica vivo e em sofrimento que leva a uma vontade de auto-anulação: o sofrimento provocado pela morte, a solidão provocada pela ausência levam Adriano a desistir do seu «projecto de viver a condição divina», pois a morte física de Antínoo provoca uma espécie de morte espiritual de Adriano, como se morressem ambos com a morte física de apenas um deles. Está subjacente aqui a ideia de que o amor é capaz de pôr em acordo a condição humana e a condição divina, mas que a morte é capaz de destruir esse acordo, pelo menos numa fase inicial (repare-se que o poema permite a leitura de Adriano se dirigir directamente ao corpo morto de Antínoo). A destruição do amado leva à destruição do próprio mundo: amar alguém é amar o mundo em que esse alguém se encontra – e a destruição vai nos dois sentidos».

«Forma Breve 7, Homografias. Literatura e homoerotismo», Universidade de Aveiro, 2009, p.126-127

nota:
já nem me lembrava que também aqui tinham já surgido poemas meus sobre a figura... totinho.

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Prefacio-te





Como não tenho foto tua, nem fui escolhida pelo David, faço o que posso e ... toma.


"They don't understand..."


Gireza is in the building

sábado, novembro 27, 2010

Cansado de tanta morte de amigos

Canto e Lamentação na Cidade Ocupada, de Daniel Filipe (fragmento)

4.
Não basta estender as mãos vazias para o corpo mutilado,
acariciar-lhe os cabelos e dizer: Bom dia, meu Amor.
Parto amanhã.

Não basta depor nos lábios inventados a frescura de um beijo
doce e leve e dizer: Fecharam-nos as portas. Mas espera.

Não basta amar a superfície cómoda, ritual, exacta nos con-
tornos a que a mão se afeiçoa e dizer: A morte é o caminho.

Não basta olhar a Amante como um crime ou uma injúria
e apesar disso murmurar: Somos dois e exigimos.
Não basta encher de sonhos a mala de viagem, colocar-lhe as
etiquetas e afirmar: Procuro o esquecimento.

Não basta escutar, no silêncio da noite, a estranha voz dis-
tante, entre ruídos de música e interferências aladas.

Não basta ser feliz.

Não basta a Primavera.

Não basta a solidão.


quinta-feira, novembro 25, 2010

Desafio em Novembro


: isto é cada vez mais difícil, o cansaço instala-se e o descanso não tem sido suficiente para que ele desapareça efectivamente dos espaços que me formam enquanto corpo e ser pensante. Quase exaurido, com uma vontade louca de mandar meia dúzia de outros dar uma curva ao bilhar grande e mudar radicalmente de vida. Mas enfim, há laços e compromissos. E o meu compromisso comigo mesmo em ser bom, o melhor possível, dentro dos meus limites (ilimitados), impele-me a continuar a necessidade de ler, ver filmes, teatro (A Cabeça de Baptista, de que não gostei particularmente), séries, concertos (Rodrigo Leão e Cinema Ensemble), coisas dessas. Mas o décimo segundo é-me exigente, o décimo deixa-me desalentado, o terceiro ciclo sabe-me a coisa sem fim que já se viu e não acrescenta. Mas deixemos as lamúrias - nem me interessam de facto, e aqui ficam sugestões de coisas bonitas e boas que vivi este mês. Destaque muito para Mário de Carvalho, de quem já tinha lido Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto e Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde - que adorei ler há uns anos -, e de quem decidi ler os outros oito livros que tinha, e ainda bem que o fiz: ironia, humor, reflexões metalinguísticas e metaliterárias, uma enorme erudição e profundo conhecimento do humano, escrita(s) admirável(eis), mesmo ao meu estilo. Ainda.

Livros:
111. O Livro Grande de Tebas, Navio e Mariana, Mário de Carvalho, Caminho, 264p.***
112. A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho, Mário de Carvalho, Bis/Leya, 96p.****
113. Fabulário, Mário de Carvalho, Caminho, 128p.***
114. Quatrocentos Mil Sestércios seguido de O Conde Jano, Mário de Carvalho, Caminho, 136p.*****
115. Apuros de Um Pessimista em Fuga, Mário de Carvalho, Caminho, 80p.***
116. Fantasia Para Dois Coronéis e Uma Piscina, Mário de Carvalho, Caminho, 228p.*****
117. A Sala Magenta, Mário Carvalho, Caminho, 176p.****
118. A Arte de Morrer Longe, Mário de Carvalho, Caminho, 128p.*****
119. Diário da Vida de Um Mocho II, João Lobo, Calígrafo, 172p.**
120. a invenção do amor e outros poemas, Daniel Filipe, Presença, 76p.****


filmes:
190. I Love You, Phillip Morris, Glenn Ficarra e John Requa**** (medinho, Ewan genial)
191. Magnitude Máxima, ???**
192. Scoop, Woody Allen***** (de morrer a rir!)
193. Okuribito - A partida, Yojiro Takita***** (tão belo e comovente)
194. José e Pilar, Miguel Gonçalves Mendes***** (já não tenho mais lágrimas possíveis)
195. Virgin Territory, de David Leland**** (acho bem)
196. Letters to Juliet, de Gary Winick***** (pela beleza de tudo)
197. Harry Potter e os Talismãs da Morte, David Yates***** (óptimo início para o fim)
198. À Noite no Museu 2, Shawn Levy***

séries:
além de continuar (acabou ontem) a ver Chuck, de ver o fim de Sobrenatural, vi de enfiada duas séries estranhas (três temporadas cada), com muitas falhas, mas com pormenores engraçados, Dante's Cove e The Lair. Medinho.

Diário de um Mocho - II, João Lobo


Sábado, no CDDS, lá estaremos, eu e a minha digníssima colega e amiga Bruna Silva, a apresentar o livro mais recente de João Lobo - se alguém se dignar a achar mais interessante literatura do que futebol ou coisas que tais :)


Post factum (correu tudo bem, como seria de esperar... ou não)



«Mas porque uma viagem é sempre um mundo de surpresas e porque, não raro, ninguém dá conta da verdade quando ela se nos põe diante dos olhos.» (p.72)

«Nunca saberemos se a vida é feita de mortes ou se a morte é feita de vidas!» (p.108)

«Dos gatos colhi as mais surpreendentes confissões e, através do seu olhar comiserativo e de pedinte a quem não se pode dizer não, as solicitações mais inesperadas. “Já fomos deuses!” - assim começavam quase sempre as duas falas. – “E, com os nossos amos, atravessámos as portas do Mais-Além” – prosseguiam.» (p.163)

terça-feira, novembro 23, 2010

o que me tem feito chorar

quase nunca choro com nada que a vida me traga de vida, só com a arte mais pura. (sim, blá blá - este gajo deve ter a mania) Mas foram dois dias seguidos de extrema felicidade, ou tristeza, sei lá. Mas choraminguei... chorei... enfim, baba e ranho, praticamente (tenho andado constipado... cof... cof...) E aqui ficam os motivos (mesmo que não costume falar de filmes). Okuribito e José e Pilar. E me quedo.





quinta-feira, novembro 18, 2010

O que eu quero para o Natal

Não é tudo o que eu quero, sou difícil de satisfazer.
Mas com sonhos, lareira, família e o livro de Sophia já está lá quase tudo :)

sábado, novembro 13, 2010

Rodrigo Leão, Coliseu do Porto

LogoRodrigo Leão e eu vou - finalmente.
Muito se espera :)


depois do concerto:

teve uma primeira parte mais «clássica», como:


e uma segunda com canções de mais sucesso comercial, como:



faltou «Rosa», faltou «Deep Blue», mas já teve tanto ;)
Foi de génio, é o que posso dizer. E teve a minha/nossa canção:

sábado, novembro 06, 2010

Esperar/ (to) Wait

Saber esperar é uma virtude. Quem espera sempre alcança, embora também desespere. Esperar é a inutilidade do tempo desperdiçado. Ou então não. Nunca gostei de esperar por nada, nem me faço esperar, normalmente. Mas há momentos em que a espera só torna mais doce o momento da concretização. Estou cansado de te esperar, que se possa acertar o destino entre nós, ou que eu consiga ser outro para outrem que te ocupe parcialmente o lugar.

(a vida que não tenho nem desejo, por Moby - o vídeo oficial também é bonito, bem como este)



(espécie de mensagem em vice-versa, em desistência momentânea, na belíssima voz de Alexi Murdoch, em canção do filme Away we go)

segunda-feira, novembro 01, 2010

3 dos 125 poemas de Joaquim Pessoa


Dos pássaros e dos homens

De pássaros não sei nada.
Também Sócrates diria que dos pássaros nada soube.
Porque um poeta é um filósofo. E um filósofo
é sempre um poeta.
E um poeta não deve saber dos pássaros
mas dos homens.

Eu confesso: de pássaros nada sei.
Sei dos homens. Mas pouco.
Por isso os estudo. Falo deles. Amo-os ou odeio-os.
Aliás, entre os homens raramente há sentimentos intermédios
como a indiferença, por exemplo.
Não consta que os pássaros os conheçam.

Os homens são muito importantes para um poeta.
Tão importantes como as palavras.
Direi mesmo mais importantes.
Porque não poderão existir palavras e poetas sem homens
mas os homens já existiam sem palavras e sem poetas.
E mesmo as palavras e a poesia sem homens não serviriam para nada.

Portanto temos
primeiro o homem
depois a palavra
e por fim o poeta.

Na poesia, é pois, fundamental, o homem.
Sendo assim, é natural que eu fale dos homens
e me recuse a falar dos pássaros
porque, também, para falar de um assunto
é preciso estudá-lo
conhecê-lo
e, como eu já disse, de pássaros não sei nada
prefiro falar dos homens embora deles não saiba tudo
mas vou analisando-os
tentando conhecê-los melhor
em vez de analisar e tentar conhecer os pássaros
porque me parece
não poder haver uma relação por aí além
entre o pássaro e o homem
nem os pássaros poderão resolver os problemas dos homens
(habitação, ensino, desemprego, etc.)
num um homem só que seja pode ser explorado
por um ou mais pássaros
nem os os pássaros fizeram explodir nunca uma bomba atómica
ou se juntaram em bandos para discutir
se hão-de construir centrais nucleares para matar alguns homens
em benefício de qualquer pássaro
ou ainda para conferenciar sobre a bomba de neutrões
que pode ao mesmo tempo matar os pássaros e todos os homens.

Por todas estas razões proponho que
a poesia fale do homem para o homem

porque:

a) falando dos pássaros a poesia fala só dos pássaros;

b) falando dos homens, a poesia fala de tudo
(até dos pássaros);

c) os pássaros nunca poderão entender a poesia nem os poetas nem os outros homens;

d) a poesia falando dos homens fará com que os homens possam entendê-la e entender não só os poetas como também os pássaros e, sobretudo, o que é fundamental, entenderem-se entre si o mais depressa possível.


*****
Tu ensinaste-me a fazer uma casa

Tu ensinaste-me a fazer uma casa:
com as mãos e os beijos.
Eu morei em ti e em ti os meus versos procuraram
voz e abrigo.
E em ti guardei meu fogo e meu desejo. Construí
a minha casa.
Porém não sei já das tuas mãos. Os teus lábios perderam-se
entre palavras duras e precisas
que tornaram a tua boca fria
e a minha boca triste como um cemitério de beijos.

Mas recordo a sede unindo as nossas bocas
mordendo o fruto das manhãs proibidas
quando as nossas mãos surgiam por detrás de tudo
para saudar o vento.

E vejo ainda o teu corpo perfumando a erva
e os teus cabelos soltando revoadas de pássaros
que agora se recolhem, quando a noite se move,
nesta casa de versos onde guardo o teu nome.

****
Perguntas

Onde estavas tu quando fiz vinte anos
e tinha uma boca de anjo pálido?
Em que sítio estavas quando o Che foi estampado
nas camisolas das teen-agers de todos os estados da América?
Em que covil ou gruta esconderam as suas armas
para com elas fazer posters cinzeiros e emblemas?
Onde te encontravas quando lançaram mão a isto?
E atrás de quê te ocultavas quando
mataram Luther King para justificar sei lá que agressões
ao mesmo tempo que víamos Música no Coração
mastigando chiclets numa matinée do cinema Condes?
Por onde andavas que não viste os corações brancos
retalhados na Coreia e no Vietname
nem ouviste nenhuma das canções de Bob Dylan
virando também as costas quando arrasaram Wiriammu e enterraram vivas
mulheres e crianças em nome
de uma pátria una e indivisível?
Que caminho escolheram os teus passos no momento em que
foram enforcados os guerrilheiros negros da África do Sul
ou Allende terminou o seu último discurso?
Ainda estavas presente quando Victor Jara
pronunciou as últimas palavras?
E nem uma vez por acaso assististe
às chacinas do Esquadrão da Morte?
Fugiste de Dachau e Estalinegrado?
Não puseste os pés em Auschwitz?
Que diabo andaste a fazer o tempo todo
que ninguém te encontrou em lugar algum?


125 Poemas. Antologia Poética, Lisboa: Litexa, 1989 (90-92, 123, 161)

quarta-feira, outubro 27, 2010

As mãos inteiras

Quem mas dera agora
inteiras e cheias com as minhas
ou com o meu corpo
água ou vento que nos leve ao encontro do outro mundo.

As mãos que eram andaime e guindaste
cofre do tesouro que era o próprio tesouro sem fim.

As mãos ambas
dextra e sinistra perfeitamente idênticas
onde o sopro do meu ser
pode encontrar abrigo.

Desafio em Outubro


Pois coloquemo-nos naquilo que amamos. Corpos, livros, filmes, teatro, música... E vivamos deles, como se fosse impossível ao contrário. É assim que faço, ou quase. E por isso tenho tempo ainda para os poemas irreverentes e apaixonados de Joaquim Pessoa (102), atravessar a ponte cheia de histórias fantásticas (103), apreciar escritas tão díspares e interessantes (104, 105, 106, 108), mergulhar numa especial Barcelona (107), confirmar gostos (109, 110)... E ver filmes - sozinho ou acompanhado, sempre de um modo tão subjectivo como ser - já cheguei aos 183 que tinha projectado, continuemos pois. Menos no teatro, claro, mas O Fim foi a peça deste mês.

livros:
102. 125 poemas. Antologia Poética, Joaquim Pessoa, Litexa, 224p.*****
103. A Ponte Sobre o Drina, Ivo Andrić, Cavalo de Ferro, 418p.*****
104. dentro de mim faz sul seguido de acto sanguíneo, Ondjaki, Caminho, 128p.***
105. Solte os Cachorros, Adélia Prado, Cotovia, 128p.****
106. Contos Cruéis, Villiers de L’Isle-Adam, Estampa, 152p.*****
107. Alicia, ao Amanhecer e outros contos, Carlos Ruiz Zafón, Planeta, 40p.*****
108. Contos do Mal Errante, Maria Gabriela Llansol, Rolim, 240p.****
109. A Feira dos Assombrados e Outras Estórias Verdadeiras e Inverosímeis, José Eduardo Agualusa, BIS/LEYA, 144p.*****
110. Lenin Oil, Pedro Rosa Mendes, D. Quixote, 160p.****

filmes:
168. O Reino Perdido, Rob Minkoff***
169. Crank, Mark Neveldine e Brian Taylor***
170. CrankItálico 2, Mark Neveldine e Brian Taylor****
171. Shelter, Mans Marlind e Bjorn Stein*****
172. Shutter Island, Martin Scorcese*****
173. A Casa das Coelhinhas, Fred Wolf***
174. He's just not into you, Ken Kwapis****
175. Remember Me, Allen Coulter*****
176. Burn After Reading, Ethan e Joel Cohen*****
177. The men who stares at goats, Grant Hesloy*****
178. Les Herbes Folles, Alain Resnais***
179. Les Chansons d'amour, Christophe Honoré****
180. 21: A última cartada, Robert Luketic***
181. Filme do Desassossego, João Botelho****(*)
182. Zoom, Peter Hewitt***
183. Beautiful Kate, Rachel Ward*****
184. A Lenda de Zorro, Martin Campbell***
185. La Journée de la jupe, Jean-Paul Lilienfeld*****
186. Padrinho... mas pouco, Paul Weiland***
187. Regresso a Halloweentown, David Jackson**(*)
188. A Nightmare on Elm Street (2010), Samuel Bayer***
189. Devil's Diary, Farhad Mann**(*)

terça-feira, outubro 19, 2010

sábado, outubro 16, 2010

filme do desassossego




vi ontem, no Theatro Circo, com apresentação breve do realizador, João Botelho, na companhia de colegas e/ou amigos. Para além dos óbvios textos extraordinários, uma imagem e uma banda sonora deslumbrantes, grande elenco, tudo em conformidade, melhor do que esperava. Gostei (menos da "ópera").





«Que coisa morro quando sou?»
Bernardo Soares, O Livro do Desassossego



nota: a visualização do filme não dispensa a leitura. mesmo.

quinta-feira, outubro 14, 2010

Alberto Caeiro certeiro

Caeiro certeiro é um pleonasmo, uma verdade lapalissada. Mas ainda assim - não só na verdade geral, mas na minha. Comecei a folhear (e não desfolhar, como vejo por aí) edições, a recordar poemas e versos em que não pegava bem desde o ano de estágio (2006!) e deparei-me com este. Assim, logo de repente. E não me lembrava dele. Pronto, as lágrimas não chegaram, mas quase, porque cair a água é natural, mesmo sem saber teorias de gravidade nem razões.


Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos (7-11-1915)

segunda-feira, outubro 11, 2010

Desejo II (disfarçado de música)

Rebel Heart, The Corrs

quarta-feira, outubro 06, 2010

Tomai lá (não do O'Neill) do Cesariny

O Álvaro gosta muito de levar no cu
O Alberto nem por isso
O Ricardo dá-lhe mais para ir
O Fernando emociona-se e não consegue acabar.

O Campos
Em podendo fazia-o mais de uma vez por dia.
Ficavam-lhe os olhos brancos
E não falava, mordia. O Alberto
É mais por causa da fotografia
Das árvores altas nos montes perto
Quando passam rapazes
O que nem sempre sucedia.

O Fernando o seu maior desejo desde adulto
(Mas já na tenra idade lhe provia)
Era ver os hètèros a foder uns com os outros
Pela seguinte ordem e teoria:
O Ricardo no chão, debaixo de todos (era molengão
Em não se tratando de anacreônticas) introduzia-
-Se no Alberto até à base
E com algum incómodo o Alberto erguia
Nos pulsos a ordem da Kabalia
Tentando passá-la ao Álvaro
Que enroscado no Search mordia mordia
E a mais não dava atenção.
O Search tentava
Apanhar o membro do Bernardo
Que crescia sem parança direcção espaço
E era o que mais avultava na dança
Das pernas do maço da heteronomia
A que aliás o Search era um pouco emprestado
Como de ajuda externa (de janela do lado)
Àquela endemonia
Hoje em dia moderna e caso arrumado.

Formado o quadrado
Era quando o Aleyster Crowel aparecia.
"Iô Pan! Iô Pã!", dizia,
E era felatio para todos
E pão de ló molhado em malvasia.

Mário Cesariny, Uma Grande Razão: Os Poemas Maiores

Desejo I

se a tristeza, a solidão e o cansaço matassem quando combinados...

de modo célere.

:)

sábado, outubro 02, 2010

ai o Natal!

é cedo, bem sei, mas quem em conhece sabe que ouço canções de Natal sempre. e esta é nova e eu gosto :) Mariah Carey em grande!


terça-feira, setembro 28, 2010

Desafio em Setembro


(em dia de receber Livro, de José Luís Peixoto, das mãos da Marta)

E bem, primeiro mês de trabalho com nova carga horária. E custa, pois claro, e ainda vai ficar pior. Mas a verdade é que, contrariamente às previsões, lá me tenho aguentado a nível de desafios culturais. Consegui ir a Santiago (com a Marta-Mim e a Simona, seguido dos livros 93 e 94), fui ao teatro, e adorei o espectáculo com Ana Bustorff, e a um musical pop com textos de valter hugo mãe, mas outras coisas ficaram pelo caminho - sobretudo o meu curso de Galego, que queria mesmo frequentar... 11 livros, pequenos, sim, mas muito bons, quase todos. Mia Couto (92) em textos circunstanciais que não deixam de ser muito bonitos, finalmente o Bartleby (95 - esperava mais, sim, mas assim mesmo é qualquer coisa) e outros clássicos como a famosa casa trágica (97), a preciosidade azarada da procura de uma vida melhor (100) e a Amazónia eivada de literatura (101). Ainda tempo para o alternativo, embora com diferentes resultados (98 e 99). Tempo ainda para continuar com os filmes (ainda falta um pouco para atingir os 183) e para The Tudors - genial.



livros:

91. F. de Fiama, Fiama Hasse Pais Brandão, Teorema, 100p.***
92. Pensageiro Frequente, Mia Couto, Caminho, 136p.*****
93. Leyendas del Camino de Santiago, Los Cadernos de Urogallo, 60p.****
94. El Camino de Santiago, Los Cadernos de Urogallo, 44p.***
95. Bartleby Escrita da Potência, Giorgio Agamben (inclui Bartleby, O Escrivão, Melville), Assírio & Alvim, 120p.****
96. Novas Histórias ao Telefone, Gianni Rodari, Teorema, 96p.****
97. A Casa de Bernarda Alba, Federico García Lorca, Europa-América, 144p.****
98. Maurice, E. M. Forster, Cotovia, 288p.****
99. Heliogabalo, Antonin Artaud, Assírio & Alvim, 150p.***
100. A Pérola, John Steinbeck, Europa-América, 124p.*****
101. O Velho que Lia Romances de Amor, Luis Sepúlveda, Porto Editora, 128p.*****



filmes:

152. An Education, Lone Scherfig*****
153. Inglorious Basterds, Quentin Tarantino***
154. Casablanca, Michael Curtiz****
155. 3x3 e Momentos, Nuno Rocha****
156. The Ugly True, Robert Luketic****
157. Killers, Robert Luketic***
158. Spread, David Mackenzie**
159. Lesbian Vampire Killers, Phil Claydon****
160. Shrek Forever After, Mike Mitchell***
161. Invictus, Clint Eastwood****
162. Robin Hood, Ridley Scott***
163. The Ghost Writer, Roman Polanski***
164. Tempestade Tropical, Ben Stiller***
165. A Papisa Joana, Sonki Wortmann****
166. George e o Dragão, Tom Reeve***
167. Velvet Goldmine, Todd Haynes****



outros:

The Tudors, temporadas três e quatro, em dois dias de descanso, sem conseguir parar - 18 episódios grandinhos! Obrigado S. por me passares estes episódios que faltavam e, sim, podes agradecer ter-ta apresentado há um ano. Ficam-me personagens interessantes com as desempenhadas por Henry Cavill, Jeremy Northan, Jonathan Rhys Meyers, Emmanuel Leconte, Jamie Thomas King, Natalie Dormer, Maria Doyle Kennedy, Joss Stone, Annabele Wallis, Joely Richardson, entre outras. Muito sangue e morte, sexo, mentiras e conspirações, religião, amor e opulência.*****

E pronto, também continuei a ver Anatomia de Grey, Sobrenatural e Chuck.

segunda-feira, setembro 27, 2010

Gosto. Não Gosto. (versão professor)

Gosto de livros - filas e pilhas deles nas estantes, no chão, nos sofás. Não gosto de certos livros, aqueles que ainda não pude comprar. Gosto de ir para o descampado apanhar amoras, antecipando o gozo de as comer frescas. Gosto de fruta, não gosto do pó. Gosto das pessoas que gostam de fruta, mas não de a descascar, embora descascar pessoas seja interessante. Gosto de gatos, das suas almofadas nas patas e seu dorso de veludo. Não gosto de cães, sua aspereza e língua que acompanha o latir. Gosto de ajudar, de ser útil. Gosto de procrastinar. Gosto das manhãs claras e cheias, das noites com estrelas onde me vejo em inicial, não gosto das tardes inúteis. Gosto de teatro, de filmes e de música que mexe com as emoções. Não gosto de perder tempo. Gosto de bibliotecas e de jardins. Não gosto de cozinhar nem mesmo de comer. Gosto de falar do que é importante e do que não interessa aos outros, mas há-de interessar. Não gosto de demagogia e de manipulação. Gosto de palavrar e de inventar códigos. Não gosto de moluscos nem de marisco. Não gosto de futebol porque é o desporto-rei. Gosto de remar contra a maré só porque sim. Gosto da diferença. Gosto de Maio e da sua poesia. Gosto do cheiro dos livros, dos cravos. Gosto de coisas velhas ao lado de coisas novas. Não gosto de pessoas ocas e medíocres. Gosto de Santiago de Compostela e do Porto como de mim. Não gosto dos três F de Portugal - só de certo Fado. Gosto de Deolinda e de Ana Moura. Gosto de certa Lisboa. Gosto de água, de batidos, de chá a toda a hora. Gosto de Sophia, de Sena, de Pessoa, de Saramago e de tantos outros. Gosto do gel de banho de flor de laranjeira e do champô de mel e karité. Não gosto de sair obrigado, de multidões e de gente sem os meus interesses. Gosto de aprender. Gosto do dúbio, do nebuloso, mas também da exactidão da expressão. Gosto de beijar. Não gosto de fazer compras, mas adoro as feiras do livro. Gosto de férias, do Verão, do calor cheio. Gosto de rio e de praia e de comer churros à beira deles. Gosto de concepções disfóricas e distopias. Gosto de gostar, mas às vezes cansa - gostar todos os dias cansa. Gosto de ler nos fins de tarde da minha terra com vista para o Marão. Gosto de fazer de conta que escrevo alguma coisa que valha a pena ler. Gosto de chocolate e do leite-creme da minha mãe. Gosto de comboio e do rio Douro. Gosto da minha família e dos meus amigos. Gosto de chuva e de trovoada. Gosto mais de gostar do que de não gostar...

Delírio sentimental à hora do almoço como se fosse crepúsculo


(com pôr-do-sol em Poiares com vista para o Marão)

Amo-te, porque todos os dias te vejo na ausência. Na indiferença.......... Porque o ser é o antes. E porque já não espero, porque a solução é fugir. Agora os dias são mais lentos e imaginar não comanda. Saber-nos é chegar ao fim. Sair é deixar-me aqui perdido e deixar que fiques incólume, até que um dia nada mais sejas que uma recordação difusa, mas doce. Nesse dia, não serei eu.................................. Depois, de súbito, as mãos, que nunca se deram, dir-se-ão adeus. Definitivo é o encontro. A morte traz o som, a regra................... o labirinto. Saudade é não saber o que o futuro nos reserva do passado. De resto, basta.................................... Nada do que possa agora ser dito fará diferença. Muito o foi já. E silenciado. Tanto ficou por escrever que o esforço seria mais tanto. Encontrar o comum é agora impossível duplamente. Que a verdade seja una e o sentimento vário e vasto..............................................................................


quarta-feira, setembro 22, 2010

Gosto. Não gosto.

Foi uma maneira diferente de começar este ano. Cada aluno escrevia caoticamente do que gostava e do que não gostava em frases sucessivas, sem lógica interna a não ser o fluxo do pensamento. Surgiram coisas bonitas. Eu escrevi também, na turma do 9.º D. Mas uma frase surgiu no 10.º E: «Não gosto de ser a palavra que não lês». Exploraram-se sentidos, criaram-se novas em decalque. Vão recolher-se para fazer um texto para pôr aqui.


Escrevi muita coisa, claro. Mas nem é isso que interessa, até porque já foi há duas semanas. Mas gostei hoje de ler uma sms com qualquer coisa como «Queres ir a Paris nas férias do Carnaval?». A resposta foi mais do que positiva, se assim se pode dizer. Tudo está já em preparação! Gosto de pessoas com iniciativa e que me incluem :)


"We'll always have Paris", ou não:

sexta-feira, setembro 17, 2010

Não resisto...

... 100 gatos em anúncio do IKEA. Visto aqui, mas tinha de pôr cá, e sem grandes comentários, que quem me sabe já percebe a euforia. quem não percebe, senti-la-á:

Livros e Origami: uma mistura que me parece bem

segunda-feira, setembro 06, 2010

2 poemas de Fiama Hasse Pais Brandão

Parte da Cidade com Sol

Na parte da cidade
iluminada
diz-se que é sol
que sobre si
tomba
no solo

A linha que reparte
uma cidade
é muda
Com a mesma arte
ela a divide
e une

****


ER

Por fora do coração voa a asa
negra do melro. O mesmo que
vive na minha vida. O que tem
um assobio tranquilo e eterno.
Segue-me com o seu amor ocul
to. Une o olhar do solo raso
ao olhar sobre a altura. Muda
e depois é igual. Por vezes ve
mo-nos nas brenhas junto ao mar.
Noutro tempo foi numa aresta verde.

Vem da viagem de Ulisses. Um
cantor. Nas figueiras de Ogygia
cantando. Sobre um fio da er
va. Oiço-o com a mesma penetra
ção com que já foi ouvido na
Natureza. Por Er. Além os
pequenos pardais negam-no.
Não os contemplo. Todos os anos
estou atenta. Este poema
afirma e recorda. Esta ave
chama por mim como eu.

Fiama Hasse Pais Brandão, F de Fiama, Lx: Teorema, p.10, 92

Santiago de Compostela

amanhã, outra vez, em Santiago, como esperado.
Saltinho para comprar doces, postais e, sobretudo, ver.
Rápido, porque interessa apoiar a MIM :)

terça-feira, agosto 31, 2010

coisas de blog

nova mudança. agora o fundo é azul e as letras brancas, troca por troca. e um rosa de vez em quando. o mesmo cansa às vezes. escuro, agora, como eu (não, não me refiro ao bronze deste verão... ).

What we are

Depois disto, que não tem explicação cabal, a vingança. Em jeito de paródia e de colocação no lugar desses humanos que pensam que nos são donos.


quinta-feira, agosto 26, 2010

Desafio em Agosto



Em tempo de férias, em espaço familiar, multiplicaram-se as ofertas. E aproveitaram-se. Dos Livros, destaque para Arménio Vieira (84 e 85), de que já falei aqui e aqui, a propósito da poesia, e agora na prosa considero-o muito bom: Cabo Verde ao poder. Chiquinho (uma vergonha só ler agora) é bom, mas Raul Brandão (87) mesmo nuns contos menores enche-me a alma, assim como O Doente Inglês - a que se seguiu o filme, para recordar um dos que me ficaram para sempre. Justo Jorge Padrón é um poeta extraordinário e o romance de um outro poeta, Jorge de Sena, Sinais de Fogo, é, sem dúvida, a obra do mês :)

Tempo também para ver um filme por um dia. E grandes surpresas (123, 129, 144, 149), algumas confirmações (124, 126, 127, 150, 151), e tempo de curtas (140, 141, 142, 143) - de que gosto particularmente. Gostava de chamar a atenção ainda para um outro (130) que é tão mau tão mau que chega a ser bom :) é de génio e se não fosse a S. teria desistido de o ver, ou as paisagens humanas.


Livros:

81. O Doente Inglês, Michael Ondaatje, Público/Mil Folhas, 320p.*****
82. Cidade Proibida, Eduardo Pitta, Biblioteca de Verão JN/DN, 96p.***
83. O Fulaninho de Cartago, Plauto, CECH-FLUC/FESTEA, 132p.***
84. O Eleito do Sol, Arménio Vieira, Vega, 148p.*****
85. No Inferno, Arménio Vieira, Caminho, 256p.*****
86. Chiquinho, Baltasar Lopes, Vega, 212p***
87. Antologia do Conto Português – Raul Brandão, Raul Brandão, Correio da Manhã, 46p.*****
88. O Processo, F. Kafka, Revista Visão, 256p.****
89. Obra Poética 1966-1996, Justo Jorge Padrón, Tertúlia, 1002p.****
90. Sinais de Fogo, Jorge de Sena, Público/Mil Folhas, 544p.*****




Filmes:


121. The English Patient, Anthony Minghella (uma vez mais)*****
122. The Invasion, Oliver Hirschbiegel****
123. A Serious Man, Ethan e Joel Coen*****
124. The Young Victoria, Jean-Marc Valée*****
125. O Nome Das Coisas (Doc. sobre Sophia)****
126. Julie & Julia, Nora Ephron*****
127. Bright Star, Jane Campion*****
128. Hancock, Peter Berg**
129. Zombieland, Ruben Fleischer*****
130. The Pit and The Pendulum, David DeCoteau*
131. The Secret Diaries of Miss Anne Lister, James Kent***
132. There Will Be Blood, Paul Thomas Anderson**
133. Splice, Vincenzo Natali***
134. No Country For Old Man, Ethan e Joel Coen***
135. Fantastic Mr. Fox, Wes Anderson*****
136. Jackass, Jeff Tremaine*
137. Resident Evil 2: Apocalipse, Alexander Witt****
138. The Haunting in Connecticut, Peter Cornewell****
139. Love Lies Bleending, Keith Samples***
140. I'll See You In My Dreams, Miguel Ángel Vivas*****
141. Curtas Animação Oscares 2009*****
142. Curtas Animação Oscares 2010*****
143. Curtas da Pixar*****
144. District 9, Neil Blomkamp*****
145. Au Pair 3: Adventure in Paradise, Mark Griffiths**
146. Hulk 2, Louis Leterrier***
147. Two Lovers, James Gray***
148. Godsend, Nick Hamm***
149. The Hurt Locker, Kathryn Bigelow*****
150. The Blind Side, John Lee Hancock****
151. Up in the Air, Jason Reitman*****


Ainda:

Lost - vi a última temporada, muito boa, com grandes momentos. Com alguns póneis, mas faz parte. E vi em dois dias, claro, porque me é viciante. Desmond e Penny, Kate e Jack, Hugo, Sun, Juliet, Richard são personagens que me ficam. E o Jacob, claro - que perfil tão tristinho...*****

sábado, agosto 21, 2010

Away we go, de Sam Mendes

Away I'd go, se pudesse. Fuga. Mas como não posso, fisicamente, vou-me nos filmes, nos livros, no sono, na escrita adiada. Escrever é uma aprendizagem da morte, escreveu, mais ou menos, Maurice Blanchot. Mas talvez morrer não exija uma aprendizagem, só entrega. Entrego-me a este filme como a vida que não vou ter, mas talvez não me incomodasse. É um grande filme, a que já aludi aqui.

Anaquim


Ante - é logo à noite, no Teatro de Vila Real. Soa-me que será muito bom :).


Post - E foi. Genial. Todas as canções, com as exigências do «ao vivo», uns novos arranjos aqui e ali, mas todas elas irrepreensíveis. «O Meu Coração» é que acabou por ficar um pouco estranho quando José Rebola, o vocalista, «encarnou» a voz de Ana Bacalhau, embora o público muito tenha apreciado. Destaque, pessoal, para a emoção de «Bocados de Mim», o ritmo de «As Vidas dos Outros» - de que, no encore, se ensaiou uma versão reggae -, de «Monstros» e «Pobre Velho Louco», entre outras. E além de todas elas, de que podem saber mais aqui ou aqui, houve ainda tempo para Zeca Afonso - «A Morte Saiu à Rua» - e um miminho: o genérico do Tom Sawyer!
E fica também uma brincadeirinha aqui.

E tudo com três das mulheres da minha vida: maninha, priminha R. e amiga da adolescência S.


Ficam dois pedaços do «Bocados de Mim» particularmente profundos (embora falte a preposição «de» que o verbo gostar exige, mas enfim...):


«mas ando pela vida feito placa de auto estrada
que ensina o caminho aos outros mas pouco sabe de si
Mas ando pela vida por ver andar meus amigos
E confesso que por vê-los nem me custa andar ai
(...)

Finjo ser a pessoa que eu quero que os outros gostem
E acabo a não ser nada que valha a pena gostar»

quinta-feira, agosto 12, 2010

Ruy Duarte de Carvalho, 1941-2010

Conheci-o nas aulas de africanas, enquanto poeta. E depois fui descobrindo alguma da prosa (Como se o mundo não tivesse leste), vi uma adaptação para teatro de Vou lá visitar pastores, descobri-o antropólogo, cineasta, enfim. Conheci-o homem no Correntes D'Escritas. E já em Lisboa, o meu orientador queria que eu o escolhesse para estudo na minha dissertação de mestrado - acabou por ser Arlindo Barbeitos, autor da mesma geração, porque conhecia já melhor e porque a professora do Porto estava a estudar já o Ruy Duarte... Falta-me ler um lista razoável de livros seus (2011 será ano para isso e não só), alguns deles que ainda não comprei, porque não são assim tão fáceis de encontrar... ou não eram - a Cotovia e as livrarias devem tratar disso agora.


R)evolucionador da literatura angolana, é um dos melhores poetas e prosadores de língua portuguesa, sem sombra de dúvidas. Falava do sul, do sal, do sol. Falava das gentes, das falas dos lugares. Falava metatextualmente, também, das palavras, das imagens. E usava os ................................................ quando não sabia mais que dizer, ou quando não era já necessário? Do pouco que li, ainda, fica:


O verão poisa nas coisas e adormece tudo.


O sal, por toda a parte.
Então pequenos lagos se acrescentam
a partir de alguma fenda original. E são taças de mar
que dão conforto ao continente agreste.


Hábito da Terra
, União dos Escritores Angolanos, p.44 e 46



Uma nova geografia se inventava em cada olhar que eu desferia, exacto, para depois consolidar as formas à custa de um moroso entendimento. (...)

Um homem nasce pobre e pobre há-de morrer. De resto nunca sabe o que vai ser. De tudo o que viu na vida, gente boa e gente má, anos bons e anos maus, João Carlos retirou duas ou três conclusões: que um homem nem sempre está onde o corpo lhe impõe estar, e o importante na vida é como estar, não aonde. Na vida de cada um há quatro vidas ao todo: sozinho dentro de si ou perto ou longe dos seus e em contacto com os outros, da mesma forma, conforme. Para além da outra vida que há-de haver depois de morto. Onde se vive uma só sem divisões ou viagens.


Como se o mundo não tivesse leste
, União dos Escritores Angolanos, p.45 e 81

quarta-feira, agosto 04, 2010

últimos escritos

Os meus mortos são mais vivos do que eu.
A ampulheta alimenta a solidão
e não há curva que me devolva.


*


Criámos asas para que o tempo fosse menos breve
inventamos máscaras para escondermos seus caminhos no rosto
e ainda assim vem ao de leve
como a mostrar-nos novo último comum posto.


*


Que o gosto a sal na minha língua
seja o meu gosto na tua.

domingo, agosto 01, 2010

Desafio em Julho


Ah, que bom ter todo o tempo por minha conta, sem dever nada a ninguém dele, ou quase - porque as férias não foram logo em Julho, mas quase. Sem fazer quase nada do que deveria, ainda fui ao Mosteiro de Tibães com os meninos do terceiro ano, passeei por Braga e pelo Porto - mas adiei Lisboa e acabei o mês em Gaia, nas mudanças da C., com uma incursão rápida mas intensa pela Feira Medieval de Santa Maria da Feira, onde adquiri o meu belíssimo pau de chuva.
Óbvio tempo para as coisas culturais. Além do Mimarte, livros e filmes. Destaque para Rui Cardoso Martins (livros 73 e 74), um escritor recente em termos de publicação de romances e que me parece que merece toda a atenção, já que estes dois primeiros títulos são mesmo muito bons e não só pelos títulos geniais. De Jane Austen não há surpresas, bom - mesmo a versão «zombie» tem o seu interesse para quem leu o original sem eles e para quem tem mente aberta para este tipo de paródia (mas gostei mesmo das últimas páginas, onde se esboça um guia de leitura verdadeiramente hilariante). Dos outros, o esperado, o inesperado (67 e 68), o neutro por falta de expectativas. Destaque ainda para o facto de ter atingido os 80 livros, que era o meu desafio deste ano...
Quanto aos filmes, estive numa de restos... Os filmes que restavam nos dvds emprestados então, ou mesmo meus (medo), os que eram mais pequenos, os que iam surgindo na tv... Destaque para Coisa Ruim, um filme invulgar no cinema português, e muito destaque para um dos melhores filmes do ano, para mim, do mesmo realizador de Revolutionary Road, Sam Mendes: Away we Go - Um Lugar para Viver, filme que faz querer ter bebés e assim... lol (hum, quem quero enganar?).

Livros:
61. Orgulho e Preconceito e Zombies, Jane Austen e Seth Grahame-Smith, Gailivro, 360p.***
62. Sensibilidade e Bom Senso, Jane Austen, Europa-América, 236p.*****
63. Baladas Hebraicas, Else Lasker-Schuler, Assírio & Alvim, 104p.***
64. Quatro Cavaleiros a Pé, José Saramago, Padrões Culturais Editora, 48p.***
65. O Herói das Novelas, Lídia Jorge, Padrões Culturais Editora, 48p.***
66. História do Rei Gonzalve e das Suas Doze Princesas e As Memórias de Joséphine, Pierre Louys, Teorema, 100p.**
67. Laços de Família, Clarice Lispector, Relógio d’Água, 126p.***
68. Contos de Clarice Lispector, Clarice Lispector, Relógio d’Água, 368p.****
69. Carta ao Pai, Kafka, Quasi, 92p.***
70. Uma Questão de Cor, Ana Saldanha, Caminho, 104p.*****
71. A Sophia, A.A. V.V., Caminho, 148p.****
72. Melancolia, António Pinto Ribeiro, Ambar, 112p.****
73. E Se Eu Gostasse Muito de Morrer, Rui Cardoso Martins, Dom Quixote, 216p.*****
74. Deixem Passar o Homem Invisível, Rui Cardoso Martins, Dom Quixote, 240p.*****
75. Herbert West: Reanimador, H. P. Lovecraft, Quasi, 96p.***
76. Electra, Sófocles, CECH-FLUC/FESTEA, 94p.****
77. O Barco Aberto, Stephen Crane, Quasi, 96p.****
78. O Guarda da Praia, Maria Teresa Maia Gonzalez, Verbo, 148p.*****
79. Histórias do Bom Deus, Rilke, Quasi, 104p.***
80. A Canção de Zefanias Sforza, Luís Carlos Patraquim, Porto Editora, 160p.***

Filmes:
97. Slither, de James Gum***
98. Um Amor de Perdição, de Mário Barroso***
99. Final Destination 2, de James Wong***
100. Gremlins 2: The New Batch, de Joe Dante***
101. Transe, de Teresa Villaverde**
102. Cursed, de Wes Craven***
103. Underworld: Evolution, de Len Wiseman***
104. Memórias de uma Gueixa, de Rob Marshall****
105. About a Boy, de Chris Weitz e Paul Weitz****
106. A Minha Falsa Noiva, de Gil Junger***
107. Cidade Baixa, de Sérgio Machado***
108. Coisa Ruim, de Tiago Guedes e Frederico Serra*****
109. Wanted, de Timur Bekmambetov***
110. In Bruges, de Martin McDonagh*****
111. Away We Go, de Sam Mendes*****
112. Prey, de Darrell Roodt***
113. O Cavaleiro das Trevas, de Cristopher Nolan****
114. Up in Smoke, de Lou Adler***
115. London, de Hunter Richards****
116. Arthur and the Invisibles, de Luc Besson****
117. Princess Protection Program, de Allison Liddi***
118. Confetti, de Debbie Isitt***
119. Miúda Insuportável, de Nick Moore***
120. The Cave, de Bruce Hunt**

domingo, julho 25, 2010

Meu dia


Santiago, meu nome, minha origem, minha cidade-lar. Metaforicamente, claro.
Porque hoje é o dia, e Xacobeo só daqui a 11 anos.




A sério, porquê? Em vez de em Setembro, devia ir já :)


sexta-feira, julho 23, 2010

Declaração

Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
Dizer “ Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?” Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor,
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
ele que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.

Nuno Júdice

em tempos daquilo que podiam ser sete anos juntos, T.
em tempos de dois anos sem ti, C, depois de oito meses.
quase em tempos de dois anos de crença por ti, A.
Com o de sempre - ou quase.
T.A.

sexta-feira, julho 16, 2010

Matilde Rosa Araújo (1921-2010)

De Manuel António Couto Viana nada tenho a dizer, li um ou outro poema, provavelmente, na escola, mas mais nada. Talvez um dia. Mas de Matilde Rosa Araújo ficou-me dos primeiros contactos com poesia de que gostei. Eu sei que tinha um livro dela, de poemas. E deve estar em muitos dos meus manuais escolares do segundo ciclo. Mas nada disto está comigo, aqui, mas em casa dos meus pais. Assim sendo, aproveitando a vontade escrever aqui que me deu agora, não adio mais a homenagem merecida, até porque encontrei na internet algo que não encontraria nesse livro ou manuais. Aqui fica, pela sua própria letra:


Livros que me faltam: sugestões felizes/eficazes de prendas

Na barra à esquerda deste blogue surge uma novidade: uma lista dos livros que me faltam, que me interessam, com os quais dificilmente viverei muitos mais anos :)
Claro que não estou à espera que mos ofereçam todos... nem metade. São os livros que tenciono ir comprando, mas que ficam aí, bem visíveis, para não haver as desculpas comuns: «tens tantos livros, nem sei o que te dar...», «tinha a certeza que já tinhas... por isso já trouxe o talão para ires trocar...» ou «toma o dinheiro e compra o que quiseres... ou compra e depois diz quanto foi».
À medida que os for comprando, vou suprimindo-os, provavelmente acrescentando outros. Assim não deverá haver inconvenientes, nem me comprarão a poesia de A. Ramos Rosa quando o que me interessava era ter os dois últimos livros de Mário de Carvalho, que entretanto estão à espera...
 
Ofício Cantante, Herberto Helder
Poemas, A. Franco Alexandre
O cultivo de flores de plástico, Afonso Cruz
As avós e outras histórias, Doris Lessing



Unibolso:
24, 56, 57, 69, 72, 89, 94, 111, 113.

RTP:
54, 55, 63, 75, 79,  88, 91, 92, 95, 99.


Coleção Vozes de África: n.º 4, 5, 12, 16, 18, 20, 21.

«Ficções»: n.º 1, 2, Férias, 5, Comer,  Filmes, 14, 16

terça-feira, julho 06, 2010

(omni)potência

«Vou à procura de Deus», diz o Castiel ao Dean (Sobrenatural, aos 1.30'', mais coisa menos coisa).

Reacção: «Treta, ele vem à minha procura e eu não fiz a cama... A minha reputação! Mas ainda tenho tempo»

Poema dos jacarandás da Pousada de São Vicente


As flores do jacarandá são bonitas
e ao vê-las retiro-lhes um pouco de azul
não lhes fará falta com o tempo
e com ele pinto o meu olhar de novo
pois talvez assim te veja mais perto.

E de repente neste dia de excessiva luz
são as flores que caem sobre mim
como se me imitassem no movimento.

Livro das Suspeições

domingo, julho 04, 2010

Blimunda posa para a Playboy


Na senda de colocar mulheres de idade avançada na capa, a Playboy acaba de fazer uma proposta milionária a Blimunda, a vidente do romance de José Saramago “Memorial do Convento”. Após a morte de Saramago, Blimunda, que se assume como “solteiríssima” depois de ter enviuvado de Baltasar Sete-Sóis, o soldado maneta da mesma obra de Saramago, começou a ser convidada para sessões de autógrafos, já cobra um cachet superior a Rita Pereira em eventos e até já recebeu uma sms marota de Cristiano Ronaldo. Segundo o director da Playboy, Blimunda revela uma personalidade forte, gosta de transgredir, é dona do seu destino, assume sem tabus os seus impulsos profanos, tem olhos envolventes e um dom particular - a ecovisão - que lhe permite ver no interior dos corpos os males que destroem a vida e também as verdades mais profundas que corroem o mundo e os homens, o que poderá representar um potencial erótico exclusivo e desconcertante.


João Henrique, «Inimigo Público»


Genial. Relacionados com Memorial do Convento ou outras obras de Saramago há mais, aqui.

Amizade (s)

foto da «montra» do Museu da Sé de Braga

Quem disse que a distância não permite a amizade? Eu sei que não somos Sophia e Sena, mas como eles encontramos palavras, gestos e olhares que nos unem. Assim saber-nos-emos sempre. Aprendemos já a distância e, tal como Sophia, «Sei que dificilmente existirá alguém que seja seu igual. E não me consolo destes dezoito anos de ausência que poderiam ter sido dezoito anos de convívio, de encontros, conversas, riso comum, aflições e alegrias comunicadas» (Correspondência, p.156). A distância não é tão definitiva nem tão longa, mas vai pesando já. Sobre ele, Sophia escreveu:


Através do teu coração passou um barco
Que não pára de seguir sem ti o seu caminho


Sophia, Navegações


p.s. - cantado genialmente por Ana Moura em Aconteceu (cd1 - À Porta do Fado).

Estantes

Já aqui falei da minha paixão por esta estante. E agora encontrei estas. são giras, mais economicamente funcionais. E dá para tirar umas ideias e combinadas devem ficar muito bem :)



Vistas aqui, onde há mais - muito bonitas, mas pouco práticas para quem tem muitos livros, que parece ser o meu caso. Mais exemplos aqui, também. E outros aqui, geniais.


já agora, na Avenida Central, há uma feira do livro da LivroBraga, com promoções interessantes da Asa, Cotovia, D. Quixote, Teorema e Sá da Costa. Ontem comprei 8 livros por 20 euros :). E em Lisboa (rrrrrr) a Assírio & Alvim faz a desejada feira do livro manuseado (até dia 11).

sexta-feira, julho 02, 2010

Mimarte 2010


Começa logo, no Rossio da Sé.
Fica aqui o programa deste ano, que promete ser tão interessante como foi bom o ano anterior :)

2/06. O Coche do St. Sacramento, de Prosper Merimée, pelo Teatro da Rainha (Caldas da Rainha) - no Theatro Circo, por causa da instabilidade do tempo, foi bom, mas enfim. Texto romântico com episódios burlescos que não faz bem o meu género. Cómico, hum... Mas bem feito, parece-me. ***

3/06. O Escurial, de Michael de Ghelderode, pelo Teatro Art'Imagem (Porto) - peça minimalista, psicológica, estranha, teatro para pensar no teatro, bom. ***(*)

4/06. Números Falam Por Si, de Pedro Quintas, pelo PIFH (Braga) - comédia sobre a história do dinheiro, desde a pré-história aos tempos mais recentes. Com pormenores interessantes de cenário, texto, movimentações cénicas - a ovelhinha foi do agrado geral, eu destaco o centurião romano que falava Italiano, grupo musical interessante, e tal. **(*)

5/06. As Guerras do Alecrim e da Mangerona, de António José da Costa, pelo Teatro Ao Largo (Vila Nova de Mil Fontes) - o texto é muito bom e foi melhorado com algumas referências actuais que caíram bem. Gostei, sem demasiada palhaçada - um pouco no início - melhor do que a peça apresentada ano passado. ***
6/06. O 1.º Milagre do Menino Jesus, de Dario Fo, pela Casa da Comédia (Lisboa) - se inicialmente o texto é estranho, com o retrato dos papas, o segundo momento, uma versão alternativa do nascimento e infância de Jesus, é genial. Comédia da boa, com apenas um actor (Filipe Crawford) em palco e sem cenário, assim mesmo, só texto e actor. Nota máxima, e o melhor deste ano, para já, do festival.****(*)

7/06. Cirinéu - Uma Morte Anunciada, de Fernando Palouro Neves, pelo Teatro das Beiras (Covilhã) - uma peça curta, sobre a liberdade e a justiça, sobre a revolta dos subjugados. Apesar de alguns momentos musicais um pouco estranhos, a narrativa é boa, os actores foram muito bons e as opções artísticas valorizaram inegavelmente o espectáculo - o que se pode fazer com um andaime e umas escaditas...****(*)

8/06. Vicent, Van e Gogh, de Noelia Dominguez, Ángel Fragua e Sérgio Agostinho, pelo Peripécia Teatro (Vila Real) - já conhecidos do ano passado, dos melhores no ano passado, a fasquia estava alta. paciência, pois foram novamente geniais! Em Setembro estarão em Vila Real (de onde são, e espero voltar a ver). Uma história sobre o pintor, sua vida, amigos, família, obra. O início é um delirante diálogo entre três girassóis de um dos seus quadros em leilão - e daí se segue tudo, em crescente humor, com alguns momentos para o drama. Actores extraordinários, excelentes soluções cénicas e improvisos brilhantes (devido ao vento que quase destruiu o cenário...) Uma vez mais, genial.*****

9/06. As Obras Completas de William Shakespeare (em 97 minutos), de Adam Long, Daniel Singer e Jesse Borgeson, pela Companhia Teatral do Chiado (Lisboa) - não vi, a única peça a pagar, no Theatro Circo, mas já não havia bilhetes.

10/06. Electra, de Sófocles, pela Calatalifa (Villaviciosa Odón, Espanha) - a colaboração do FESTEA com o Mimarte começou este ano com uma tragédia grega. Gostei, mas por vezes a Electra, hum... enfim. E depois, em castelhano, já se sabe... O bom é que o FESTEA oferece edições das suas peças, em Português, o que ajuda ;), História de solidão, dor, de honra e vingança, em continuação dos sucessos pós-Tróia.****

11/06. O Fulaninho de Cartago, de Plauto, pelo Thíasos (Universidade de Coimbra) - comédia latina, a fechar a tal colaboração e o Mimarte, também. Ambas as peças no Museu D. Diogo de Sousa, não sei bem porquê, uma vez que houve problemas com as luzes nos dois espectáculos, e fica mais longe... Comédia à Plauto, com alguns equívocos, mas sobretudo com muitas coincidências totalmente inverosímeis, com boas prestações (mas enfim, o principal atropelava-se um pouco).***(*)


E venham mais para o ano :) A começar mais a horas, já agora... É melhor escrever uma carta à CMB, com algumas sugestões...