terça-feira, julho 28, 2009

Desafio em Julho

E. Hopper, Compartment C, Car 193 [1938]

E o desafio continua. E muito bem, do ponto de vista numérico - é esse o desafio. Do ponto de vista qualitativo também, mas fazem-me falta certos livros que queria ler e não posso... Por tudo, porque penso que me vão roubar tempo à escrita da maldita dissertação, mas enfim... Os livros mais pequenos vão sendo lidos um pouco por todo o lado, como sempre. Os maiores só os inevitáveis: o Mia por quem é, a Agustina porque queria acabar de ler tudo o que tenho dela. Muitos contos (e a grande descoberta do livro de Helena Malheiro), como sempre, alguma poesia, teatro (por influência do Mimarte) e coisas que são necessárias para a escola ou para artigos... Vou de férias, agora. Até ao meu regresso!

68 - O Prazer da Leitura II, vários, FNAC/Teorema, 168p.***
69 - Rei Édipo, Sófocles, FLUC, 82p.*****
70 - Antígona, Sófocles, Fundação Calouste Gulbenkian, 140p*****
71 - A Dança das Borboletas, Wenscelau de Moraes, Independente, 158p.****
72 - O Comum dos Mortais, Agustina Bessa-Luís, Guimarães Editores, 368p.****
73 - Cinco Tempos, Quatro Intervalos, Ana Saldanha, 54p.***
74 - Bestiário, Fábulas e Outros Escritos, Leonado da Vinci, BI, 96p.***
75 - «Ficções 10», direcção de Luísa da Costa, Tinta Permanente, 200p.***
76 - Jesusalém, Mia Couto, Caminho, 296p.*****
77 - «Ficções 11», direcção de Luísa da Costa, Tinta Permanente, 144p.***
78 - O Tamanho do Mundo, Helena Malheiro, 192p.*****
79 - Pederastia na Idade Imperial, Royston Lambert, Assírio & Alvim, 64p.***
80 - A Religião do Girassol, org. de Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim, 68p.****

Filmes:
Idade do Gelo 3*****
Harry Potter e o Princípe Misterioso****(*)

Signs

Não, não encontrei um novo amor com uma história semelhante. Um antigo talvez. E não, não tenho nenhum amor novo. Antigos sim, que ficam sempre. Mas o filme é bom, é bonito. E vale muito a pena. Talvez haja mais coisas que valham a pena.

domingo, julho 19, 2009

A lua


E hoje, mais logo, na RTP2, Luísa Malato no Câmara Clara. A não perder!

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Foi interessante, e a minha (Fada)Madrinha foi fantástica.
E o objecto artístico mais bonito sobre a lua são duas, parece-me, na música:






E podia ser a Diana Krall, ou Sinatra... Ou literatura - tantos...
Mas eu não sou lunar, pelo contrário ;)

sexta-feira, julho 17, 2009

Hoje, Mia Couto

Mia Couto, na Centésima Página, para falar do novo livro, Jesusalém. Ok, admito, durante muito tempo pensei que era Jerusalém - e achei estranho, porque Gonçalo M. Tavares teve muito sucesso com um livro com este título e assim, tão próximo, parecia-me excessivo... e até pensei que por causa disso o romance tivesse recebido o título de Antes de Nascer o Mundo, no Brasil, mas não foi por isto, então... Sei que comecei a lê-lo, enquanto esperava que me dissessem se continuava ou não no colégio (e sim, continuo), e estou a adorar (só não adorei a ideia de continuar com a minha turma no secundário e de, por razões técnicas, não continuar com a minha turma de segundo ciclo...); não era para ler já, queria esperar pelas férias para apreciar melhor e ler antes tudo o que me falta ler do antes. Mas o Mia vem cá falar hoje e apetece-me ouvi-lo sabendo um bocadinho do que se trata. É muito bom, a fazer lembrar o Terra Sonâmbula e O Outro Pé da Sereia, e a fugir ao anterior, Remédios de Deus e do Diabo - pelo menos para já, o que é bom (e vou ter Estudo Acompanhado...).

segunda-feira, julho 06, 2009

III. 29. E pur si muove


Sentia-se triste como uma casa sem móveis.

Flaubert, Madame Bovary

Os móveis enchiam o espaço interior, e cada um de nós tropeçava, batia, não vivia nele, porque tomavam conta de nós de forma opressiva. Não havia vazio, nem silêncio. E cada um de nós seguiu o seu rumo. Depois, aos poucos, desbaratadas no vento as lembranças e as palavras, queimados que foram os gestos, ficámos sós, eu e a casa. E embora a solidão não doa, entristece. Como a casa sem ti. E perante a minha imobilidade, a minha descrença do vazio que nos tornámos, ela age por mim: de cada vez que olho pelas janelas apercebo-me da mudança como se estivesse num comboio, do que vem e do que ficou para trás, e sempre que me sento no alpendre tenho novas paisagens para apreciar. É a sua forma de ser mais do que uma casa e de me ajudar. Mas alguns sentimentos não se mudam ao mudar-se uma casa, em todos os sentidos.

Mimarte - Festival de Teatro de Braga

Sozinho, com a Virgínia, no Rossio da Sé ou no Museu D. Diogo de Sousa, tenho andado a ver teatro. Já tinha saudades... Depois de ter perdido as três primeiras, comecei a ir ver tudo, excepto a oitava, pois estava exausto... E tem sido muito bom, desde clássicos gregos a abordagens infantis, muito bom.

30 de Junho, As Justiceiras, de Aristófanes, por Teatro ao Largo (Vila Nova de Mil Fontes), encenação de Steve Jonhston - a encenação da comédia parece roçar um pouco, talvez, a revista portuguesa. O texto clássico foi adaptado aos tempos actuais (qual Ágora, a Junta de Freguesia é que é importante, ou o problema dos brasileiros e dos romenos ou ucranianos...), com música e interacção com o público, com alguma coisa que me fez duvidar um pouco do bom gosto, mas isso sou eu, porque toda a gente gostou muito e deu para rir também com qualidade. ***(*)

1 de Julho, Paisagens em Trânsito, de Patrick Murys, por Circolando (Porto), encenação de Patrick Murys - uma peça estranha, sem falas (algumas onoamtopeias e outros sons), repesentada por um único actor e, por vezes, fantoches - um real, um outro encarnado pelo actor, num cenário que recria linhas de comboio, mas também estábulos e tudo o que quisermos imaginar, e malas, muitas malas. Diz o programa é que é sobre o exílio, memórias, e muitas interrogações - é o que o espectador faz, muitas interrogações! ****

2 de Julho, Afonso Henriques, de António José Saraiva, por O Bando (Palmela), encenação de João Brites - uma peça mais direccionada para o público infantil, mas que agradou a todos. A história do primeiro rei português, suas guerras, dúvidas, paixões, num ritmo marcado pelo divertimento, pela música... Muito bom!****(*)

4 de Julho, Agamémnon, de Ésquilo, por Grupo Thíasos do IEC - Fac. Letras (Coimbra), encenação de Lia Nunes - peça do XI Festival Internacional de Teatro de Tema Clássico, recupera a primeira parte da Oresteia, centrada no regresso de Agamémnon depois da guerra de Tróia, e a recepção que dele é feita por sua mulher infiel, Clitemnestra, que aqui é representada por duas actrizes, para transmitir melhor o carácter dúbio da mulher enganadora. Gostei bastante, em especial do Corifeu. ****(*)

5 de Julho, Édipo Rei, de Sófocles, por Grupo de Teatro Clássico ESAD (Málaga, Espanha), encenação de Andreu - não tinha lido o texto (ao contrário do anterior, mas já li, entretanto) mas sabia a história, o qu enão sabia é que ia ver uma representação tão extraordinária: a intensidade trágica da dúvida que pode aniquilar um homem é levada ao extremo: suor, lágrimas, baba (e tenho dúvidas quanto ao ranho) surgem não muito depois da pela ter começado e mantêm-se... e o coro ajuda. Grande desempenho de Chico García como Édipo, mas todos estiveram bem. Destaque ainda para o Coro - excepcional. *****

6 de Julho, Teatroclip, Tin.bra (Braga), encenação de Sónia Sousa, - a pior crítica é não haver crítica... pronto, eu quase cortei os pulsos com o representação de pequenos quadros da vida de uma vila separados por músicas de Amália, mas até gostei da actriz alcoólica, e de uma ou outra saída mas, no geral, foi de bradar aos céus... comédia fácil, com trocadilhos e tiradas demasiado previsíveis, e as entradas e saídas quebravam o que quer que fosse possível existir de interessante. E pareceu-me tãooooo longooooo. **

7 de Julho, Ibéria, a louca história de uma península, por Peripécia Teatro (Vila Real), direcção de José Carlos Garcia - depois de adiado por causa da chuva (no dia 27 de Junho), voltaram e ainda bem. Uma comédia a sério sobre episódios da Península Ibérica, desde as guerras entre os dois países e com os mouros, aos pastorinhos de Fátima, passando pos Inês de Castro (muito bem contada a história), Camões e Cervantes, Aljubarrota (os actores eram pães que relatavam o que acontecia aos espanhóis), Tordesilhas (fantástica a ideia da marcação de território como os animais)... Dois actores e uma actriz fazem de tudo, do início ao fim: reis, rainhas, guerreiros, pães, pastorinhos, papa... tudo centrado neles, sem grandes artifícios técnicos além do excelente trabalho corporal em cena. Destaque ainda para a cena do anel em D. Constança - fantástico! Muito bom, a encerrar. ***** (com Virgínia, Marta e Rui Pedro)

P.S. - para mais informação, fotos, vídeos, ver o links em cada um dos títulos.

sexta-feira, julho 03, 2009

Para a Marta e para a Virgínia - Parabéns!

«E então conto o do que ri, que se riu: uma borboleta vistosa veio voando, antes entrada janelas a dentro, quando junto com as balas, que o couro de boi levantavam; assim repicava o espairar, o vôo de reticências, não achasse o que achasse - e era uma borboleta dessas de cor azul-esverdeada, afora as pintas, e de asas de andor. - "Ara, viva, maria boa-sorte!" - o Jiribibe gritou. Alto ela entendesse. Ela era quase a paz.»

João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas (Editora Nova Fronteira, 2005)



borboleta é um ser irrequieto.
para vestes usa pólen.
tem um cheiro colorido
e babas de amizade.
descola por ventos
e facilmente aterriza em sonhos.
borboleta tem correspondência directa
com a palavra alma.
para existir usa liberdades.
desconhece o som da tristeza
embora saiba afogá-la.
usa com afinidades
o palco da natureza.
nega maquilhagens isentas
de materiais cósmicos. como digo:
pó-de-lua, lápis solar
castanho-raíz, cinzento-nuvem.
borboleta dispõe de intimidades
com arco-íris
a ponto de cócegas mútuas.
para beijar amigos e vidas ela usa olhos.
borboleta é um ser
de misteriosos nadas.

Ondjaki, Há Prendisajens com o Xão (Caminho, 2004)