sexta-feira, outubro 31, 2008

Poemas de Alberto Pimenta

Uma série de poemas de Obra Quase Incompleta, seleccionados porque sim, e aqui em formato de imagem, para ser mais fácil representá-los visualmente, como foram criados, e outros em letras, onde o visual não é tão importante:




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porco trágico I

conheço um poeta
que diz que não sabe se a fome dos outros
é fome de comer
ou se é só fome de sobremesa alheia.

a mim o que me espanta
não é a sua ignorância:
pois estou habituado a que os poetas saibam muitode si
e pouco ou nada dos outros.

o que me espanta
é a distinção que ele faz:
como se a fome da sobremesa alheia
não fosse
fome de comer
também.

***
Civilidade
não tussa madame
reprima a tosse

não espirre madame
reprima o espirro

não soluce madame
reprima o soluço

não cante madame
reprima o canto

não arrote madame
reprima o arroto

não cague madame
reprima a merda

e quando estourar
que seja devagarinho
e sem incomodar, ok madame?

ok, monsieur.


Alberto Pimenta, Obra Quase Incompleta, Fenda, 1990, p. 69, 44, 113, 175, 232

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